sexta-feira, 16 de outubro de 2009

O Criador e a Criação


"A Obra Demonstra o Caráter de Quem a Faz"

O primeiro capítulo de Gênesis apresenta Deus trabalhando. Geralmente, a atenção do leitor da bíblia se dirige às coisas criadas. Entretanto, aquele texto tem muito a nos ensinar sobre seu principal personagem: o próprio Deus. Assim como as nossas obras mostram o nosso caráter, também a criação revela diversos aspectos da natureza divina. É importante que aprendamos a respeito do Senhor para que possamos ter atitudes corretas diante dele, compreendendo um pouco mais sobre a sua forma de agir. Podemos também aprender a fazer as coisas ao modo dele, dentro dos limites humanos, é claro.

“Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados” (Ef.5.1).

A PRIMEIRA SEMANA

Entre Gênesis 1.1 e 2.3, sete dias se passaram. Vemos ali um exemplo de como aproveitar bem a semana. Nos seis primeiros dias, Deus fez toda a sua obra e no sétimo descansou. Em cada dia, algo significativo era feito. Nós também precisamos usar bem o nosso tempo. Quantas pessoas deixam a semana passar e não resolvem o que precisa ser resolvido nem fazem o que deve ser feito. Assim passam os meses, os anos, a vida. Muitos querem descansar antes de trabalhar. O exemplo que Deus nos deu é bem diferente. A preguiça não encontra apoio bíblico. O trabalho excessivo também não. Trabalhar e descansar são importantes, cada um na medida certa e no tempo certo.

CADA COISA NO SEU TEMPO

Deus poderia ter dito: “haja tudo”, e tudo passaria a existir. Então teríamos apenas um versículo narrando a criação. Sabemos que não foi assim. Podendo fazer tudo de uma só vez, ele quis dividir seu trabalho em etapas. Muito do que ali está parece ter sido daquela forma para nos servir de exemplo, ensinando-nos muitos princípios importantes.

O ritmo do homem moderno é muito acelerado. Do café instantâneo às informações em tempo real, tudo é muito rápido. Do fogão a lenha ao forno microondas, do carro de boi ao ônibus espacial muita coisa mudou. Escrevo um texto agora, no Brasil, e, daqui a poucos minutos ele poderá ser lido no Japão. No século XXI, vivemos na velocidade dos computadores, mas nem tudo pode ser assim. Em muitas situações, ainda precisamos saber esperar, por mais incômoda que essa palavra tenha se tornado. Não sejamos ansiosos, querendo resolver tudo em um só dia. Precisamos trabalhar sim, mas com paciência. Cada dia da criação preparava o ambiente para o dia seguinte. Nossas vidas também são divididas em fases. Devemos fazer hoje o que for necessário, sem querer antecipar demais os fatos futuros.

Atualmente, as coisas são feitas com muita rapidez e logo são descartadas. O imediatismo e a facilidade causam a desvalorização. A durabilidade dos bens e dos relacionamentos está seriamente comprometida. Mal se começou algo, já se deseja partir para uma nova experiência.

ACALME-SE. AINDA NÃO ESTÁ PRONTO

O livro de Gênesis começa assim: “No princípio criou Deus os céus e a terra. A terra era sem forma e vazia e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas” (1.1-2). Imagine se alguém pudesse chegar ali, naquele instante, para verificar o que Deus estava fazendo. Talvez ocorresse uma decepção. Deus cria os céus e a terra, mas a terra é sem forma, vazia, com trevas e com abismo? Se pudéssemos presenciar aquela cena, talvez iríamos murmurar contra Deus, colocar defeitos na sua obra e reprovar a sua capacidade criadora. Entretanto, esta seria uma avaliação prematura, precipitada e equivocada porque a obra estava apenas começando.

Em nossas vidas, muitas vezes avaliamos negativamente o que Deus está fazendo. Acalme-se! Ele ainda não acabou. Outros dias virão e, em cada um deles, o Senhor fará coisas novas e maravilhosas. Depois da escravidão e do cativeiro vem a libertação. Depois do deserto vem Canaã. Depois da cruz vem a ressurreição. Depois das aflições deste mundo vem a glória celestial. Acalme-se! Ainda não é o fim. Uma luz surgirá no meio da escuridão.

Naquele aparente caos, algo positivo acontecia: “O Espírito de Deus se movia sobre a face das águas”. Se o Espírito Santo se move, algo vai surgir. Não sejamos impacientes. Não façamos avaliações e julgamentos antes do tempo. Deixa Deus trabalhar!

Como já foi dito, o Senhor pode fazer tudo em um instante, mas nem sempre ele faz assim. A bíblia relata muitas curas instantâneas, mas fala também da experiência de Naamã, que precisou mergulhar sete vezes para ser purificado (IIRs.5). Se ele fizesse um check-up após o primeiro mergulho, talvez desistisse da fé em Deus. Entretanto, ele permaneceu firme em seu ato de obediência, até que sua lepra desaparecesse. Quando Israel conquistou Jericó, sete dias de caminhada foram necessários até que as muralhas caíssem.

“Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo” (Fp.1.6).

ATRIBUTOS DIVINOS

Os dias da criação se sucederam e o caráter de Deus ia sendo demonstrado em cada coisa criada. Aprendemos, em Gênesis 1, que Deus é:

- Único - o texto nos mostra um só Deus ccriando tudo.

- Eterno – o livro dos princípios não rellata o princípio de Deus.

- Onipotente – ele demonstra seu poder aoo criar todas as coisas.

- Sábio – sua obra demonstra criatividadee suprema.

- Soberano – ele dá diversas ordens e o uuniverso se move em obediência.

Sete vezes Deus viu que era bom o que acabara de fazer (1.4,10,12,18,21,25,31). Na sétima, ele viu que tudo era “muito bom”. De onde vinha essa bondade? Do próprio Deus. Portanto, o texto nos ensina que Deus é bom.

Nem todas as características divinas estão manifestas em Gênesis 1. Contudo, continuando a leitura bíblica, vamos encontrando outras facetas do caráter divino. Em Gênesis 3, diante do pecado humano, ficam evidentes a santidade de Deus, bem como sua justiça e sua misericórdia.

ORGANIZAÇÃO

O texto de Gênesis 1 nos mostra, de maneira bem interessante, que Deus é organizado. Ele fez todas as coisas na ordem necessária. Primeiro a água, depois os peixes. Primeiro o céu, depois as estrelas. Primeiro os minerais (1.1), depois os vegetais (1.11) e, por último, os animais (1.20). Deus não começou criando um boi para deixar o animal urrando de fome. Precisamos aprender com o Senhor a sermos organizados. Se a nossa vida é desordenada em casa, no trabalho, na escola, etc, dificilmente alcançaremos um bom nível de realização. Existe um tempo apropriado para cada experiência. Adiantar, atrasar ou inverter a ordem pode causar muitos males. Trabalhar antes de estudar, ter filhos antes de casar ou casar antes de se definir profissionalmente são exemplos de inversões que, se puderem ser evitadas, melhor será.

CADA COISA NO SEU LUGAR

Como parte de sua organização, Deus separou as coisas, umas das outras. Ele não queria misturas indevidas. Logo no princípio, céus e terra já foram criados separados (1.1). Depois, Deus separou luz e trevas (1.4,14,18), águas e águas (1.6-7), águas de cima, águas de baixo, os mares e a terra seca (1.9). Talvez nós não separaríamos “águas e águas” (1.6), pensando que tudo fosse uma coisa só. Deus não vê dessa forma. Água salgada e água doce precisam existir separadamente, embora se encontrem em algum momento (Tg.3.12). Em nossas vidas, não podemos viver misturando as coisas, o santo com o profano, o limpo com o imundo (Lv.10.10; Ez.44.23), a luz com as trevas (IICor.6.14-18). Isto é contrário ao caráter de Deus.

O criador identificou bem as coisas, dando-lhes nomes. Observe, em Gênesis 1, o verbo “chamar” (1.5,8,10). Vamos deixar bem claro: Luz é dia. Treva é noite. Firmamento é céu. Água é mar ou rio. Porção seca é terra. Deus não quer situações indefinidas, ambíguas ou mal resolvidas. Quem sou eu? Quem é você? Qual é a sua identidade? Somos servos de Deus? Então vivamos como tais. Além disso, Deus colocou cada coisa no seu devido lugar. Ele não pôs os peixes no deserto, a lua no fundo do mar ou as plantas no céu. Alguns ambientes não servem para o servo de Deus, da mesma forma como não encontraremos demônios na glória celestial.

COERÊNCIA

Existe uma idéia de organização também na expressão “conforme a sua espécie” (Gn.1.11,12,21,24,25). Deus não permitiu que a figueira produzisse azeitonas, ou a videira figos (Tg.3.12). Cada árvore produz fruto e semente conforme a sua espécie. A coerência é também um princípio espiritual, um traço do caráter de Deus. A bíblia compara nossas obras aos frutos. Uma árvore boa não pode produzir fruto mal ou vice-versa (Mt.7.15-23). Não pode, portanto, aquele que se diz filho de Deus, praticar as obras das trevas, fazendo-se semelhante ao ímpio. Não é admissível que alguém que se diz cristão seja desonesto, mentiroso, caloteiro, adúltero ou ladrão (só para citar algumas desgraças do inferno). Talvez seja um frasco de veneno com rótulo de refrigerante.

Enquanto criava, Deus ia determinando as leis naturais que regem o funcionamento do universo. Ao criar os astros, o dia e a noite, uma série de regras foram estabelecidas para o movimento cósmico que até hoje continua. A organização divina é algo extraordinário que precisamos aprender e colocar em prática, dentro dos nossos limites.

AMOR

Outra lição de Gênesis 1 é a que diz respeito ao amor de Deus. Não existe a palavra “amor” em nenhum daqueles versículos. Contudo, nenhum deles está desprovido da manifestação prática do amor de Deus.

Lembro-me de quando eu e minha esposa preparávamos o quarto para o nosso filho, que estava para nascer. Fizemos uma reforma, mudamos tudo, paredes, teto, móveis e detalhes de decoração. Montamos, da melhor forma possível, um quarto lindo para o nosso bebê. Muito mais fez o Senhor, preparando tudo para receber o homem, o ponto máximo de sua criação. Vemos, em tudo isso, o grande amor de Deus por nós.

PROPÓSITO

O texto de Gênesis 1 nos ensina também que Deus age com propósitos, não por acaso nem por acidente. O desígnio divino está em cada versículo, mas fica mais evidente naqueles onde encontramos a preposição “para”, indicando a finalidade da coisa criada: os luzeiros para iluminar a terra, para fazer separação entre o dia e a noite e para auxiliar na organização do tempo. Os vegetais foram feitos para servirem de alimento, além de outras utilidades. Todas as criaturas têm seus propósitos idealizados por Deus, mesmo que o texto não os mencione e nem sejamos capazes de compreendê-los.

Sendo assim, o Senhor teve um propósito também ao criar o ser humano. Deus o criou para ter alguém semelhante a ele, com quem pudesse ter comunhão. Afinal, Deus não teria um diálogo com as plantas nem um envolvimento afetivo com os asteróides. O homem seria também o representante de Deus na terra, governando o mundo (Gn.1.26). Por fim, o homem foi feito para o louvor e a glória do Senhor (Is.43.21).

O relato da criação nos faz concluir que Deus valoriza o ser humano. Enquanto as coisas foram criadas pela palavra de Deus, o homem foi formado por suas mãos. Foi um trabalho especial. Se Deus valoriza o homem, nós também devemos nos valorizar. Cada pessoa deve respeitar o seu semelhante, pois todos nós somos amados pelo Senhor.

BÊNÇÃO

Deus abençoou suas criaturas (Gn.1.22,28) e o dia de descanso (Gn.2.3). Nós também devemos abençoar o que fazemos, abençoar nossos filhos e as outras pessoas que estão à nossa volta. “Abençoai e não amaldiçoeis” (Rm.12.14). É comum ouvirmos maldições, críticas desnecessárias, reclamações infindáveis e palavras torpes de todo tipo. Devemos, entretanto, falar a palavra de Deus, falar o que for bom e edificante para aqueles que nos ouvem (Ef.4.29), sabendo que, acima de tudo, o Senhor está nos ouvindo.

OBRA CONCLUÍDA

Em Gn.1.1 é mencionado o princípio da criação. Em Gn.2.1 está o término. Tudo o que Deus pretendia fazer naquela ocasião ele fez. O criador não parou na metade, mas foi até o fim. Este é um importante exemplo para nós, como servos de Deus. Muitas pessoas começam tantas coisas, mas poucas levam a obra a bom termo. Muitos começam a leitura de um livro, iniciam um curso ou um trabalho, mas interrompem por qualquer motivo ou diante da primeira dificuldade. Não têm perseverança, propósito definido nem determinação. Hoje querem muito fazer algo. Amanhã, nem tanto e, depois de amanhã, nem tocam mais no assunto. Desistência, em alguns casos, é fracasso antecipado. Quem vive desistindo demonstra fraqueza de vontade e de caráter. Sejamos decidimos e persistentes em tudo aquilo que é bom, assim como Deus fez na obra da criação.

Autor: Anísio Renato de Andrade

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